Sexta-feira 13. Dizem que é dia de azar. Hoje é 13, mas é quarta-feira. Em 1964, o 13 de março caiu numa sexta-feira. Sexta-feira, 13 de março de 1964. Lembro, nesse post, de dois fatos daquele dia, prenúncios de uma tragédia que estava prestes a acontecer. 60 anos atrás.
A imagem que abre a coluna é de Othon Bastos em Deus e o Diabo na Terra do Sol. Bastos é o cangaceiro Corisco no filme de Glauber Rocha. A imagem seguinte (Foto/Reprodução) traz o presidente João Goulart e Maria Thereza, nossa bela primeira-dama, no ato que ficou conhecido como o comício da Central do Brasil.
Rio de Janeiro, sexta-feira, 13 de março de 1964. Pela manhã, no Cine Vitória, convidados – equipe, cineastas, críticos – assistem à primeira sessão pública de Deus e o Diabo na Terra do Sol, segundo longa-metragem (o primeiro foi Barravento) do cineasta baiano Glauber Rocha.
Nas décadas seguintes, pessoas presentes à sessão falaram do impacto extraordinário que o filme provocou naquele 13 de março de 1964. Deus e o Diabo na Terra do Sol se transformaria num dos pontos altos do Cinema Novo, num marco da cinematografia nacional e, a partir de Cannes, projetaria internacionalmente seu realizador.
Rio de Janeiro, sexta-feira, 13 de março de 1964. Entre o final da tarde e o início da noite, o presidente João Goulart realiza um grande comício na Central do Brasil. Em seu discurso, Jango faz o anúncio das chamadas reformas de base, que considerava indispensáveis ao desenvolvimento do país.
Os militares que, em 1961, na renúncia do presidente Jânio Quadros, tentaram impedir a posse do vice João Goulart, seguiam conspirando. Com o apoio de importantes representações da sociedade civil, estavam a apenas 18 dias da deposição de Jango.
Deus e o Diabo na Terra do Sol era o produto da genialidade e da inquietude de um artista que faria 25 anos no dia seguinte, 14 de março de 1964. Se estivesse vivo, nesta quinta-feira, 14 de março de 2024, Glauber Rocha completaria 85 anos. Quando morreu, em 1981, tinha 42.
O comício da Central do Brasil foi o dramático ato final do governo de João Goulart, herdeiro legítimo do getulismo e do trabalhismo de Vargas. O suicídio de Getúlio, em agosto de 1954, adiou por 10 anos o golpe que os militares finalmente deram em 1964, depondo Jango e iniciando a ditadura que se estendeu por 21 longos anos.
Deus e o Diabo, Glauber e Jango. Há forte simbolismo no fato de que estava tudo junto naquela sexta-feira, 13 de março de 1964. Um filme que apontava para um revolucionário projeto estético e retratava a miséria e os impasses nacionais. Um presidente que não enxergava um futuro sem as reformas de base. Faz 60 anos. A História, assim com H maiúsculo, dá conta do que logo estava reservado ao Brasil e aos brasileiros.