Nesta quinta-feira, 25 de janeiro de 2024, acordo com a notícia que o amigo mandou durante a madrugada. A cantora folk Melanie Safka morreu aos 76 anos. Melanie Safka. Na minha memória afetiva e na de muita gente pelo mundo, apenas Melanie. Beautiful People. Um símbolo, um ícone poderoso de um tempo e de uma geração.
“I got the same direction that you do/So if you take care of me/Maybe I’ll take care of you”. Ou, como a gente encontra nessas miseráveis traduções do mundo digital: “Eu vou na mesma direção que você/Então se você cuidar de mim/Talvez eu cuide de você”.
Não adianta. Se você não viu Woodstock, o filme, se você não ouviu Woodstock, os discos, se você não presou atenção no fenômeno de quase 55 anos atrás, a morte de Melanie não lhe dirá absolutamente nada. Mas ela está lá, no New York Times, lembrada na manchete como a cantora que fez um “solo splash” em Woodstock, o festival.
Em agosto de 1969, Woodstock começou numa sexta-feira, cruzou o sábado, o domingo, e foi dar na manhã da segunda-feira. Woodstock simbolizou uma época, um tipo de comportamento, e Melanie estava lá, na noite de sexta-feira, depois de Ravi Shankar, antes de Arlo Guthrie e Joan Baez.
Melanie nem apareceu no documentário Woodstock. Muita gente não apareceu. Melanie, seu violão, sua voz linda, sua cara linda. Beautiful People. A canção nem está no álbum principal, o triplo. Entrou no segundo álbum, o duplo. Perdida entre muitas canções acústicas. Mas inesquecível.
Beautiful people. Assim os hippies eram chamados. Melanie cantou para eles naquela noite em Woodstock. Melanie cantou para eles, com seus sonhos tão grandes quanto impossíveis, e cantou sobre eles. Por isso, a música se espalhou pela multidão de 500 mil pessoas tomada de boas vibrações.
Cantar em Woodstock foi uma experiência religiosa com o resto da humanidade. É como Melanie falou para o livro Back to the garden, de Pete Fornatale. Sua canção Beautiful People – como, mais tarde, a própria Woodstock, de Joni Mitchel – é uma ode duradoura sobre o festival. Isso também está no livro de Fornatale.
“Foi mágico” é o que Melanie diz no livro The road to Woodstock, de Mike Lang. Organizador do festival, é Lang que assim escreve: “Ela realmente se conectou, com sua voz singular e trêmula”. Quando voltou para casa, Melanie escreveu o gospel Lay Down, um dos seus grandes sucessos.
Melanie teve algumas canções de sucesso nos anos 1970, gravou muitos álbuns, dizem que vendeu 80 milhões de discos. Mas, de certa forma, se pensarmos nas exigências da indústria fonográfica e do mercado da música popular, ela nunca foi de fato protagonista, ela sempre correu muito por fora.
Beautiful people. “Você nunca teria que estar sozinho/Porque sempre haverá alguém/Com o mesmo botão que você”. Melanie se conetou com você? Você se conectou com Melanie? Beautiful people. A voz era linda. A canção era linda. Melanie era linda. Ela agora está morta.