A empresa Hort Agreste, investigada pelo ‘Golpe do Tomate’, que teve o dono Jucélio Pereira de Lacerda preso na quinta-feira (7), pelos crimes de estelionato e formação de organização criminosa, tem um capital social de R$ 250 mil, de acordo com o sistema de Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (Redesim) e também do contrato social que constituiu a empresa, na qual o Jornal da Paraíba teve acesso.
De acordo com investigações da Polícia Civil, o prejuízo causado pela empresa em dois anos de atuação pode chegar a R$ 120 milhões. Um valor 480 vezes maior do que o capital social da empresa.
O empresário Jucélio Pereira tem 30% na constituição da Hort Agreste, tendo feito um aporte inicial de R$ 75 mil. A esposa dela, Priscila dos Santos Silva, é a sócia administradora do negócio, com 40% de participação, tendo feito um investimento de R$ 100 mil. Também conforme o contrato social da empresa, outras seis pessoas compõem o quadro societário, com fatias menores de participação no negócio.
O Jornal da Paraíba entrou em contato com a Polícia Civil, que investiga o caso. De acordo com o delegado Aneilton Castro, a esposa de Jucélio, Priscila dos Santos, teve pedido de prisão preventiva requerido pelas autoridades, no entanto, a Justiça negou, mas ela segue sendo investigada pelas supostas fraudes.
O Jornal da Paraíba não conseguiu localizar a defesa de Jucélio e de Priscila dos Santos.
A Polícia Civil não revelou se os outros seis sócios que compõem o quadro societário da empresa também estão sendo investigados. O processo corre em segredo de Justiça.
Golpe do Tomate
O empresário Jucélio Pereira de Lacerda foi preso na manhã desta quarta-feira (7), na zona rural de Lagoa Seca, na região de Campina Grande, por suspeita de estelionato qualificado e formação de quadrilha, em um esquema de investimentos em cultivo de hortaliças hidropônicas em que ele não efetuava os retornos prometidos. Ele era o administrador da empresa Hort Agreste.
Ele foi preso por força de um mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça. Após audiência de custódia, nesta quinta-feira (8), o homem segue preso e foi transferido para o Presídio Padrão de Campina Grande. Como o mandado de prisão é da comarca de João Pessoa, existe a possibilidade dele ser transferido mais uma vez, dessa vez para um presídio da capital nos próximos dias.
O suspeito possui uma fazenda de cultivo de hortaliças hidropônicas, que são vegetais plantados na ausência de solo, apenas com água e nutrientes necessários. Ele oferecia investimentos nesse cultivo, com a justificativa de que a manutenção do plantio é cara, e prometia em troca lucros acima da realidade do mercado financeiro.
Quando chegava a época do investidor começar a receber seus retornos financeiros, os pagamentos não eram efetuados.
Para alguns investidores, foram prometidos rendimentos mensais de 7% para os valores investidos na bancada de Tomate Tipo 1 durante 12 meses e 10% para Tomate Tipo 2 durante 24 meses. Após os prazos informados, o investidor teria acesso ao percentual de 30% a título de participação nos lucros.
“Invenção mágica”
Um investidor da Hort Agreste, que preferiu não se identificar, disse ao Jornal da Paraíba que além das promessas altas de rendimentos, havia também uma dita “invenção mágica”, uma nutrição química que permitiria que o que fosse produzido, pepino, tomate ou qualquer outra coisa do tipo, pudesse ser colhida mais rapidamente. O Jornal da Paraíba teve acesso ao contrato que essa vítima firmou com o empresário e o Boletim de Ocorrência feito na polícia sobre o caso.
“Jucélio é formado em Química. Com isso, ele alegava que tinha descoberto uma forma de balanceamento químico para nutrir essas plantas de forma a ter resultados muito mais rápidos que outros produtores, que com isso ele conseguia acelerar o sistema produtivo e que por essa razão o lucro ele pagaria de forma tranquila”, relatou.
Segundo a vítima, era justamente no aspecto da nutrição química que Jucélio tentava convencer potenciais investidores, garantindo que a “descoberta química” garantiria o retorno financeiro prometido aos investidores.
“De fato ele (Jucélio) aparentava ter muito conhecimento sobre a hidroponia, da nutrição química da planta. Ele tinha todos os dados. Ele manipulava bem esses dados, fazendo cálculos na nossa frente, dos insumos, do custo para produção de cada bancada, ele conseguia facilmente enganar qualquer pessoa, porque tinha todo o domínio dos dados. Só que não sabíamos que aquilo era falso”, contou.