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Caetano Veloso lança livro com seus escritos sobre cinema

Foto/Reprodução.

Caetano Veloso lança nesta terça-feira, 21 de maio de 2024, o livro Cine Subaé. A publicação, com a marca de qualidade da Companhia Das Letras, tem como organizadores Cláudio Leal e Rodrigo Sombra.

O lançamento será no Teatro Clara Nunes, no Rio de Janeiro, com um bate-papo entre Caetano e os organizadores. O ingresso social dá direito a um exemplar do livro com renda destinada aos trabalhadores da cultura do Rio Grande do Sul.

Registro minha alegria por ter uma entrevista que fiz com Caetano sobre cinema incluída no livro. A entrevista, de setembro de 2009, foi publicada no Correio das Artes, o suplemento literário de A União. À época, eu era editor do jornal.

A seguir, volto ao texto que escrevi para introduzir a entrevista que foi capa do Correio das Artes com o título de Caetano Cinevivendo. É assim, com esse título, que está nas páginas de Cine Subaé.

O amor de Caetano Veloso pelo cinema remonta à infância tanto quanto o amor pela música. Aos quatro anos, ele sugeriu que a irmã se chamasse Maria Bethânia por causa da música de Capiba que Nelson Gonçalves cantava, Aos oito, numa viagem a Salvador, viu Sansão e Dalila, filme-marco da sua formação. Se prestarmos atenção às suas entrevistas e aos textos que escreveu, veremos que o cinema e a música estão juntos nas influências recebidas nos caminhos que percorreu até se tornar um dos grandes nomes da música popular do Brasil. O rapaz, mal saído da adolescência, que teve em João Gilberto uma descoberta definidora do que viria a produzir, é o mesmo que, não muito longe dali, enxergou em Godard o seu primeiro filtro pop. Antes de decidir pela música, quis ser cineasta. E foi crítico de cinema.

O cinema, naturalmente, está nas letras de algumas canções que compôs. Já em Cinema Olympia (1969), que cantou no show de despedida antes de partir para o exílio londrino, e em Nine Out of Ten (1972), escrita e gravada na Inglaterra. Giulietta Masina (1987) é uma homenagem à atriz que o encantou na adolescência quando viu La Strada e Noites de Cabiria. E Cinema Novo (1993), um tributo ao movimento que mexeu profundamente com a cinematografia do Brasil na década de 1960. Michelangelo Antonioni (2000), letra em italiano, fala do mestre de quem teve a felicidade de ser amigo. A Federico e Giulietta, o casal Fellini, dedicou um disco inteiro, gravado ao vivo em Rimini por um emocionado Caetano. O sonho de ser cineasta foi concretizado em Cinema Falado (1986), único filme que dirigiu.

A lucidez, a inteligência, o gosto pela controvérsia, o espírito provocativo. Tudo isto me interessa muito em Caetano. Na obra gravada, nas entrevistas, nas conversas. Cheguei perto dele através de Jomard Muniz de Britto, um amigo comum. Não tenho o hábito de procurá-lo para atuar profissionalmente como jornalista que sou. Quando vou ao seu encontro, quem está ali é mais o ouvinte de música popular que o acompanha desde aquele festival que, em 1967, o projetou nacionalmente com Alegria, Alegria. Mas, algumas vezes, confesso que sinto vontade de entrevistá-lo, talvez para que outras pessoas tenham acesso a conversas sempre tão prazerosas. Como o fiz em 1998 num material que publiquei em O Norte. É lá que Caetano diz, creio que pela primeira vez, que o Tropicalismo é filho da lição de Pernambuco.

Mais extensa, esta entrevista ao Correio das Artes foi pensada no dia em que li, alguns anos atrás, a conversa de Caetano com o pessoal da Cult sobre literatura. No meio, havia algumas perguntas sobre cinema. Fiquei com vontade de propor uma volta ao tema numa conversa que resultasse num perfil do Caetano cinéfilo. Num encontro em João Pessoa, quando gravamos um depoimento para um documentário sobre Jomard Muniz de Britto, disse que desejava entrevistá-lo e que o assunto era cinema. Ele topou, e combinamos que seria por email. Mas acabamos, espontaneamente, fazendo uma espécie de “ensaio”: na mesa de um restaurante, trocamos inúmeras impressões sobre a paixão pelos filmes. A dele e a minha. O diálogo serviu de roteiro para o que temos agora: uma entrevista de Caetano Veloso diferente de todas as que ele já deu.

O título da capa desta edição do Correio das Artes, Caetano Cinevivendo, foi sugerido por Jomard Muniz de Britto. Fica, portanto, como homenagem aos tropicalistas do Nordeste.

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