O Ministério da Educação quer ampliar a política de letramento racial em todo o ensino básico brasileiro, anunciou Cleber Santos Vieira, secretário de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Ele veio ao Rio representando o MEC no lançamento do projeto “Sinalização e Reconhecimento de Lugares de Memória dos Africanos Escravizados no Brasil”. A estreia foi na região conhecida como Pequena África, mais precisamente no Museu da História e Cultura Afro-Brasileira (Muhcab), Gamboa, na manhã desta quinta-feira (30/11), encerrando as ações do Mês da Consciência Negra.
O projeto é do Governo Federal, via Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, que visa a fixação de placas em cem lugares de memória dos africanos escravizados no Brasil comprovados por registro histórico. Além de Santos, estiveram presentes os ministros Silvio Almeida (Direitos Humanos) e Anielle Franco (Igualdade Racial), assim também como realizadores da ação, representando o BNDES e a UNESCO.
A Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, resumiu a importância de se fortalecer a memória dessa parte da história no território carioca.
– O que estamos fazendo aqui hoje, com sinalização e reconhecimento do Cais do Valongo, um dos mais importantes lugares da memória dos africanos escravizados do Brasil, é recuperar a história do país e descortinar essa visão que retira dos livros e dos monumentos públicos a contribuição de negros e negras para erguer a nação Brasileira.
A anfitriã foi a secretária municipal de Cultura em exercício, Mariana Ribas, junto con a diretora do Muhcab, a autora Sinara Rúbia, que reconheceu as medidas assertivas celebrando não apenas a nossa história, mas também o compromisso com a construção de uma cidade antirracista.
– Iniciativas que refletem um compromisso político e um esforço contínuo para uma cidade mais inclusiva.
Desde a sua descoberta durante as obras do Porto Maravilha, o Cais do Valongo (vizinho ao Muhcab) se tornou um lugar de memória e, também, patrimônio mundial pela Unesco.
– Com esta importante sinalização, conectamo-nos não apenas ao passado, mas também a um futuro onde a cidade e o país abraçam sua diversidade e uma história, até então, não contada de maneira legítima – disse Sinara, apontando aos convidados um caminho de reconhecimento, valorização, memória, orgulho e reparações.
As indicações vão desde portos, igrejas, praças, terreiros de candomblé, quilombos, passando por lugares onde ocorreram movimentos de resistência, até manifestações culturais.
A ação está dividida em duas etapas, sendo a primeira a elaboração e fixação de placas alusivas ao reconhecimento feito pelo Programa Rotas dos Escravizados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A segunda fase será a disseminação do projeto por meio de plataformas digitais e a educação e cultura em direitos humanos.
A ideia é que sejam elaborados materiais pedagógicos e de apoio para professoras e professores para cumprimento da obrigatoriedade do estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena, prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB).
– Mais que reconstruir o Brasil, precisamos fazer um Brasil que nunca existiu e essa formação, do país que merecemos, sonhamos e nos dá dignidade, só será possível se nós tivermos algo que é fundamental, que são as políticas de memória – disse Silvio Almeida, à frente do MDHC, como principal agente deste lançamento.
Em um ano no cargo, a ministra Anielle Franco já esteve, ao menos, três vezes no Museu da História e Cultura Afro-Brasileira (Muhcab), onde aproveita a agenda para matar a saudade da amiga e colega de turma no curso de mestrado em Relações Étnico-Raciais do Cefet-RJ, Sinara Rúbia, hoje diretora do Muhcab, um dos 15 pontos na Pequena África. Elas estudaram juntas nos anos de 2019 e 2020, em plena pandemia, e hoje trilham caminhos na política, com práticas e medidas antirracistas.
O Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (Muhcab) é um museu de território e um dos 15 pontos de memória que compõem a Pequena África, na Região Portuária, localizado no Centro Cultural José Bonifácio, na Gamboa, no Rio de Janeiro (RJ). Conta a história da região que testemunhou o maior desembarque de africanos escravizados no mundo.