De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), considera-se adolescente aqueles entre 12 e 18 anos de idade. Trata-se de um tempo (psíquico e sociocultural) em que o indivíduo vive suas primeiras experiências afetivo-sexuais.
A maneira como estes jovens estabelecem as suas relações com o advento da internet motivou a pesquisa nomeada “Relacionamentos Amorosos de Adolescentes e a internet”, que teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) por meio da chamada 01/2013 – Demanda Universal.
A pesquisa qualitativa partiu de entrevistas com estudantes de 18 anos do primeiro período de cursos da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e buscou investigar se a internet introduz novas formas de relacionamento afetivo entre adolescentes, as motivações que os levam a buscarem parceiros amorosos na internet, e analisou se a internet introduz uma nova forma de amar ou reproduz as já existentes.
Público x privado
A professora do Programa de Pós-Graduação de Psicologia da PUC Minas e especialista em temas como adolescência, família, relações afetivas, redes sociais virtuais e gênero, Márcia Stengel, coordenou o projeto. Segundo ela, os relacionamentos na internet, protagonizados por adolescentes ou não, precisam lidar constantemente com a exposição.
“Nós temos publicizado a nossa vida privada na internet. Então, coisas que eram consideradas mais íntimas e privadas, como os relacionamentos amorosos, que antes eu contava para os meus amigos ou para a minha família, agora tendem a ficar públicas. […] A fronteira entre o público e o privado fica, como eu gosto de dizer, borrada”, conta Stengel.
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O adolescente que anteriormente escolhia para quem contar sobre a sua vida privada, com as redes sociais, torna tudo isso acessível para qualquer um. “Por exemplo, se um casal briga, o que antes ficava no privado, passa a ser público. Se eu postava fotos do namorado e de repente não tem mais, as pessoas podem dizer: ‘Olha lá. Brigou'”, exemplifica.
Contudo, Stengel aponta que em pesquisas mais recentes observou-se que, tanto entre as meninas quanto os meninos entrevistados, fotos, mensagens carinhosas e declarações de amor podem ser postadas, mas as brigas não. Trata-se de um tipo de “etiqueta digital”, que define o que deve ou não ser postado e motiva discussões entre os casais. “Tenho visto brigas entre namorados em que um diz: ‘eu coloquei nas minhas redes sociais que estou namorando com você, mas você não colocou na sua’, ou então, questionam: ‘eu coloco fotos nossas e você não'”, conta.
Luto pelo corpo
A ausência física do corpo nas relações mediadas pela internet é vista como uma vantagem para os adolescentes. Stengel explica que, nesta fase, o indivíduo passa por uma espécie de luto pelo corpo infantil que ele deixa de ter. “À medida que estou compreendendo e aceitando o meu corpo e vivendo as questões da sexualidade e tendo que lidar com ela, se eu não estou em contato com o outro, corpo a corpo, eu ganho tempo para me entender melhor”, explica.
Neste momento, o jovem pode postergar as inseguranças e incertezas em relação à descoberta da sua sexualidade. “Ele se protege psicologicamente até que ele dê conta de encarar, tendo a oportunidade de postergar o encontro propriamente dito”.
Posto, logo existo
Para Stengel, as redes sociais são guiadas pela lógica do “posto, logo existo”. A brincadeira com a frase famosa de Descartes, “penso, logo existo”, se refere à constante necessidade de postar nas redes sociais como forma de se afirmar e validar diante dos seus seguidores. “Se a gente não aparece, não posta, é como se a gente não existisse […] Uma viagem que faço, mas que não posto, é como se eu não tivesse viajado”, explica.
As redes sociais têm efeitos subjetivos em cada pessoa, que passa a se autoafirmar de acordo com as curtidas e comentários dos seus seguidores. Stengel explica que em relação aos adolescentes, eles são especialmente potencializados. “Temos observado muitos relatos de adolescentes com baixa autoestima e/ou depressão por conta das redes sociais”, conta a pesquisadora. “Uma crítica feita para um adolescente tem um impacto maior, em modo geral, do que para um adulto. Ele precisa mais da aceitação do outro”, relata.